Sunday, March 1, 2015

A Fernando Echevarria


Dei-me muito com Fernando Echevarria há vinte anos, quando vivíamos ambos em Paris. Aprendi muito com ele, estimo-o grandemente como poeta e como pessoa. Por isso gostei que lhe tivesse sido atribuído o Prémio das Correntes de Escritas este ano e deixo aqui um poema que lhe dediquei, no meu livro O Jogo de Fazer Versos, de 1994:

CARTA A FERNANDO ECHEVARRIA

Estes versos que lês, caro Fernando,
buscam em metro e rima duro mando.
Como se na medida e no rigor
pudessem esquivar-se do sabor
das mastigadas fórmulas sem amo,
sem dono nem senhor há tanto ano,
academismo vão que se fez presa
de um poetar sem cor e sem surpresa.
No alto e frio rigor da poesia
teus versos são cristais, na demasia
talhados, como pedra se lapida
e brilha, diamante, contra a vida.
Um dia me falaste de uma aura
que ao poeta preserva, como em jaula
de luzes e crepúsculos doirados
a fera aguarda o salto. Transviados,
nossos passos perdíamos no cais
em frente ao Châtelet e nunca mais
pude esquecer o teu conselho certo:
- Tempo podes perder, mas não um verso.

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