Friday, March 25, 2016

À POESIA


Sempre voltamos. E nunca conhecemos
os cantos à casa. Caminhamos descalços
sobre tijoleira fria e abrimos a janela,
porque já estivemos nalgum lugar parecido,
mas nunca aqui. Flores secas, o piano
há muitos anos fechado. Falávamos de música?
Heard melodies are sweet
but those unheard are sweeter.
Alguém falou, por detrás desta infindável galeria de retratos
que conduz à torre assombrada.
Nós estamos habituados a ouvir os mortos.
Entramos e saímos e voltamos a entrar nesta casa,
mas nunca os corredores encontramos no mesmo sítio!
Faltam-nos, é claro as castíssimas esposas, 
que aninham as mansões de vidro transparente.
Mas este é o nosso tempo e com ele nos medimos,
às vezes irónicos, às vezes vagos ou distantes,
mas nunca fugimos dele. Nós não desertamos.
Não fugir. Suster o peso da hora.
E ouvir vozes e perder vozes e calar um verso,
porque uma palavra sobra e desequilibra.
A atenção às coisas e o voluntário esquecimento
do pormenor insidioso e biográfico,
que desponta como erva daninha
até infectar toda a cobertura da casa
com a humidade que envelhece telhas e madeiras
e acaba por corroer palavras, versos, memórias,
para nas caleiras ficarem por fim amalgamadas
as flores mais puras do engenho e da invenção.

(com versos de Keats, Cesário Verde e Cristovam Pavia)






3 comments:


  1. Hoje é de abraços que falo
    de noite que se faz dia
    é de versos é de espantos
    que me enchem de alegria

    soou-me o nome a poeta
    soou-me o nome a cultura
    abraço os dois confiante
    num caminho por trilhar
    num livro ou mais por escrever
    num filme por inventar
    num quadro quase a nascer
    melodia em DOM MAIOR
    numa peça por estrear

    e aí está
    um País por revelar
    (isso já tenho por certo)

    Lisboa há muito que o espera
    (e Odeceixe aqui tão perto...)

    -----------------------------------

    (Parabéns e muito muito êxito)

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  2. Subscrevo Era uma vez e deixo-o tomar fôlego, até porque há um clima de serenidade onde também quero espraiar-me...

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  3. E o poema não é o mesmo no dia seguinte, o crepúsculo do badalar dos sinos nas diferentes igrejas dá-lhe um travo de embriaguez que parece que vem do tempo ,mas não, vem dos outros dos que estavam debaixo do pó e que emergem dos bons ou dos maus empurrados por Friedrich Nietzsche, grande filho da mãe a renascer para além do bem e do mal...

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