No meio de toda a beleza que não merecemos,
Monserrate. Torres meio derrubadas
e corredores vazios que conduzem a salas
desfeitas em pó e esquecimento.
Beckford, o cabotino, quis construir aqui o seu reino
e deixou-nos apenas a ruína de um império de pobres,
imaginado entre os braços dos seus criados portugueses
e a memória do intragável livro que escreveu na juventude.
É a beleza que me alucina de azedume e raiva.
Esta beleza deve morrer. Eu continuo
o meu percurso e construo o meu personagem,
mais duradouro e firme do que este pobre e tolo palácio
desenhado por um príncipe de fantasia. Nos meus poemas
eu sou a própria realidade das coisas.
Os portugueses não merecem a beleza,
mas talvez seja bom para eles viverem assim:
entre ruínas
e rancores.
(
NOTA : Este poema responde ao profundo ressentimento que transparece nos versos famosos de Byron no "Childe Harolde" sobre Sintra e os portugueses; Monserrate, quando foi avistado por Byron, era uma ruína, abandonado palácio que William Beckford tentara erguer à medida dos sonhos que deixara escritos no seu romance "Vathek"; Byron não podia saber que o palácio viria a ser reconstruído poucos anos depois pelo seu compatriota Cook, para mais tarde voltar a ser abandonado em 1940; a raiva de Byron aos portugueses tem conhecido várias explicações por parte
dos historiadores, mas uma leitura imediata do poema fá-la ressurgir diante de nós, inteira como um insulto atirado hoje)