Monday, July 8, 2013

De "Os Maias" de Eça de Queirós



 E como Ega se curvava, vencido, cheio só de respeito—o outro, faiscando todo de finura e cynismo, atirou-lhe uma palmada ao hombro:

—Meu caro, a politica hoje é uma coisa muito differente! Nós fizemos como vocês os litteratos. Antigamente a litteratura era a imaginação, a phantasia, o ideal... Hoje é a realidade, a experiencia, o facto positivo, o documento. Pois cá a politica em Portugal tambem se lançou na corrente realista. No tempo da Regeneração e dos Historicos a politica era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrorio... Nós mudamos tudo isso. Hoje é o facto positivo,—o dinheiro, o dinheiro! o bago! a massa! A rica massinha da nossa alma, menino! O divino dinheiro!

E de repente emmudeceu, sentindo na sala um silencio—onde o seu grito de «dinheiro! dinheiro!» parecera ficar vibrando, no ar quente do gaz, com a prolongação de um toque de rebate acordando as cubiças, chamando ao longe e ao largo todos os habeis para o saque da Patria inerte!...

(O Author não aceita a orthographia republicana de 1911)

3 comments:

  1. Grandes discordâncias com o AO (um deles) o pormenor das cubiças é expressivo...

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  2. nós mudámos tudo isso, gosto e não gosto da expressão, gosto do caroço,ou melhor, voltei ao texto e vejo que é o bago, gosto, quanto ao saque da patria inerte, que magnifica descrição, assim continuou e ua, sobre cubiça já foi feito comentário

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