Saturday, August 10, 2013

Urbano Tavares Rodrigues

Caro Urbano, a ultima vez que nos vimos foi no Rio de Janeiro, pois e, o tempo passa, a gente vive longe, as relações de simpatia nao se diluem na distancia, simplesmente ficam cristalizadas em momentos que acabam por nao se mover no tempo, como se sempre tivéssemos ficado naquela conversa de fim de tarde em S. Clemente, nessas evocaçoes que ai nos ocorreram de uma controvérsia de 1974 tida no jornal "Republica" ou de uma conversa ainda mais longínqua no Congresso de Aveiro, em 1973. As relações de simpatia nao sao tão vivas como as amizades, os amores ou os ódios, vivem inscritas no tempo, sem movimentos nem modulações. Fixas, quando os afectos mais fortes sao mudaveis. E há coisas que nao se dizem, nem a sua filha Isabel, minha amiga no Facebook , eu diria, como a comparação (injusta como todas as comparações entre autores e escritas que nos merecem respeito) que nao p^ode deixar de me ocorrer, quando do funeral da Maria Judite, entre a sua obra e a da Maria Judite de Carvalho, mas que importam comparações, que valem as nossas atitudes perante as obras, quando a nossa propria leitura tanto muda e se refaz, autores que hoje eu redescubro maravilhado e que me deixaram frio quando há anos os li, livros que me apaixonaram e moveram e hoje me deixam ausente ou distante... A leitura, caro Urbano, nao e como a nossa relação humana, de simpatia atenta e lucida cristalizada em momentos distintos do tempo, a leitura, como as amizades, os ódios e os amores evolui no tempo, move-se com a nossa vida e, como experiência que e, altera-se com toda a constelação final das nossas experiências. E isto que eu hoje lhe diria, se o Urbano me pudesse ouvir.

5 comments:

  1. sim, bom tambem neste momento evocar maria judite de carvalho, essa norme escritora com muito de katherine mansfield e qb de virginia woolf, apenas por isso, e no livro de sumários da universidade de lisboa lá estava a ultima lição de utr antes de ter de sair que anos depois voltou, e queimavam os bastardos do sol quando os líamos, e há o filho familia alentejano que vem para lisboa estudar e lhe compram um carro e numa aposta estupida perde nessa noite carro e vida nas avenidas novas, e há a jovem professora primária de provincia, etc, pois é altura de evocar os 2, não por biografias mas por escritores, um aliás já é leitura escolar, que o outro seja tambem, pois era um homem cortês utr, de voz e fala suave (há outro que assim fala, jorge miranda), pois não sei se o presidente vai prestar as suas homenagens funebres, ou o pm, ou o ministro da educação ou cultura ou lá que seja, tempo portanto de ler umas peças de utr mas tambem de mjdc aqui oportunamente referida, pois sim, pois sim, bom tambem dirigir lhe uma carta aberta, a noite roxa e as palavras poupadas, os armários estão agora vazios, etc etc

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  2. Meu caro Alcipe
    Essa é que é essa - a leitura nao é como a nossa relação humana, de simpatia atenta e lúcida cristalizada em momentos distintos do tempo, a leitura, como as amizades, os ódios e os amores evolui no tempo, move-se com a nossa vida e, como experiência que é, altera-se com toda a constelação final das nossas experiências - meu caro amigo!

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  3. Estava a pensar que só a morte decide e se constitui no nosso momento de publicar o que temos escrito nas gavetas segredo,da alma, sobre Alguém, numa espera de maturação nesse necessitar de mais tempo de gaveta, para comprovar se as palavras que jamais te direi, em vida, porque sim ou porque não, serão mesmo essas...

    Também para dizer que adorei o post, embora não saiba ainda muito bem se consigo personalizar o último parágrafo na sua linearidade...

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  4. releio a entrada e sim, há leituras que agora não são o que eram no passado, entusiasmos antigos de livros que agora podem deixar indiferente ou até decepcionar, certamente tambem o contrario. nunca reli utr e não sei como seria agora o anterior entusiasmo, a ponto de esperar com impaciencia a saida de novo livro.
    maria j de carvalho talvez resista melhor ao tempo, penso, não é tão datada ou geracional. ponto interessante a comparação dos 2, neste aspecto.
    mesmo o utr de antes, até viamorolencia ou estrada de morrer, me parece mais sólido que o de agora, os 2 romances posteriores e recentes que tentei ler dele não me entusiasmaram, o ultimo não o terminei.
    tudo evolui no tempo, verdade, os livros, os autores e os leitores...

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