Tuesday, June 11, 2013

A nossa juventude


"Hoje é muito simples dizer: “Ah, as pessoas todas sabiam em 1968 que ele ia durar pouco, as pessoas todas sabiam que ele ia acabar de um dia para o outro…” Sabiam, uma treta. Podiam pensar analiticamente que não podia durar muito, mas ter a consciência vívida de que o regime podia acabar de um momento para o outro, duvido que muita gente a tivesse… E muitas opções de vida tomadas nessa altura – as opções de militância, por exemplo -, contrariamente ao que hoje se diz com algum facilitismo, não eram opções de carreira. Pelo contrário, eram opções de não carreira, porque toda a gente sabia que o ciclo que se colocava à sua frente era eventualmente a prisão ou o exílio. Não estavam propriamente à espera de que a uma determinada altura fossem premiadas as suas virtudes como oposicionistas"

(José Pacheco Pereira)

6 comments:

  1. presumo que se trata duma figura, fazer um paralelismo entre 1968 e 2013, agora, como então, não podemos com segurança "pensar analiticamente que não podia (pode) durar muito" ou tomar "opções de carreira", nada é seguro portanto, não nos enganemos, e prisões e exilios há os de muitas e variadas formas e quase todos as sofremos actualmente...

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  2. Com Pacheco Pereira precisamos, sempre, de situar temporalmente o discurso, porque a escolha é de 180º.
    E não hei-de eu, que já os vi noutras paragens, sorrir à seriedade das palavras actuais.
    Ó Deus me ajude...

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  3. Independentemente da pessoa do Pacheco Pereira, é verdade que as opções para a minha geração se punham entre a guerra e o exílio e toda e qualquer acção política corria um risco de prisão. Esta foi a minha experiência. Não condeno quem tinha tido outra, mas não aceito que menosprezem ou ignorem o que foi a experiência de muitos.

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  4. Alcipe
    Não me entendeu. Limitei-me a dizer que Pacheco Pereira "evoluiu" muito e por isso é necessário situar , no tempo, o seu discurso, pra sabermos a que período corresponde.
    Quanto à sua experiência pessoal merece-me o maior respeito. Muitos dos meus amigos foram presos pela Pide. Tive um filho preso aos 15 anos e o outro com uma acção movida pelo PR de então, com a mesma idade. E fui eu que aguentei o barco sozinha...
    A minha experiência foi diferente. Foi a de conduzir uma família com o meu trabalho e sem ajuda de ninguém. Garanto-lhe que me não doeu menos!

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  5. Eu sei muito bem que a Helena não é de forma alguma estranha a esta experiência que refiro, bem pelo contrário. Mas há hoje muitas pessoas, e sobretudo historiadores, que querem diluir ou dourar a vida que se vivia então e se referem a outras experiências (que eu disse que respeitava) de pessoas que nada sofreram com aquele regime e até o achavam humano e moderado. Claro que não vivíamos sob o Hitler, mas falar em "autoritarismos benevolentes" com simpatia e tolerancia, isso não podemos suportar. Mas isto não é consigo, Helena, de modo algum.

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  6. Recado da 'velha senhora':

    co'a idade minha e ciência
    muito tinha pra dizer
    sobre jovens mas paciência
    censurada não sei ser
    sei-ser

    da censura a consequência
    era meu bem de prever
    já passei prá concorrência
    quem quiser que vá lá ler
    lá-ler

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