Saturday, June 22, 2013

A minha gente


Nestes dias do lixo, o desprezo pelo "humano" concreto tornou-se a regra e, de uma ponta a outra do nosso mundo quotidiano, varreu-se a preocupação humanista não só da política como de muitos outros aspectos da nossa vida. A tecnologia é usada, numa sociedade cada vez mais pobre, para criar novas exclusões. Valores civilizacionais como a privacidade e a intimidade são dissolvidos na "facilidade" do Facebook. O universo público mediatizado gera uma cultura de superficialidade e ignorância presumida. Os valores não circulam numa sociedade que vive na moda e na novidade. Todas as mediações, dificilmente construídas pela luta cultural consciente dos homens para viverem sem ser na selva, estão em crise.
E a política em democracia perdeu esse sentido de melhoria da vida dos homens comuns, da "felicidade terrestre", na única vida que conta para a democracia, que é a vida na Terra e não a eterna. A demagogia que sacrifica o presente em nome de um futuro construído ao sabor dos interesses desse mesmo presente reconstrói a ideia de que a salvação está outra vez num paraíso celeste, agora prefigurado nos "nossos filhos e nos nossos netos", em nome de quem a vida das pessoas que existem, tenham um dia ou cem anos, é desprezada.
Eu sei que são velhas queixas, muitas vezes repetidas. Mas talvez tenha sentido repeti-las para renovar dia a dia, ano a ano, uma pulsão humanista que, se pode não fazer uma vida melhor, pode pelo menos fazer-nos melhores.
(José Pacheco Pereira)

2 comments:

  1. Ou, de como as palavras podem aproximar pessoas tão distintas, como um poeta diplomata de esquerda e um político de centro direita!
    Para o intelectual, discorrer e escrever é, por norma, mister. Para o homem comum mister é viver as dificuldades do dia a dia.
    Raro é que se encontrem, porque nenhum percebe a linguagem do outro!

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  2. josé pacheco pereira é um homem que sabe indignar-se com o injusto, com a degradação dos valores democraticos, com o governar desprezando as gentes, o sofrimento dos humilhados e ofendidos indigna-o e isso faz dele um sério humanista.

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