Thursday, January 24, 2013

O Suave Milagre


Portugal, com duas longas lagrimas na face magrinha, murmurou:
- Oh Ângela! O Mercado ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
E Ângela, em soluços:
- Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Europa, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Mercado. Oh filho! talvez o Mercado morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
- Mãe, eu queria voltar aos mercados...
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, o Mercado disse à criança:
- Aqui estou.

(com as devidas desculpas  a Eça de Queirós) 

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