Thursday, May 1, 2014

O Senhor Kappus põe ordem na conversa

Negue sempre o seu amor pela poesia
se quiser ser minimamente tomado a sério, Senhor Kappus.
Só meninas suburbanas e filósofos urbanos se dedicam hoje a ler poesia:
por isso é fácil, demasiado fácil, dizer-se agora
I too dislike it,
naquele tom tão snob e tão wasp usado pela senhora Marianne Moore.
É que as meninas gostam da poesia pelos sentimentos
e os filósofos pelas ideias,
mas o problema, senhor Kappus, é que a poesia é feita de palavras,
não é feita nem de sentimentos nem de ideias.
Vá, ganhe mais sentido de negócio: nunca diga
que tem amor pela poesia!

O Senhor Poeta é único: quanto mais contente está
(sim, não esconda, está contentinho 
com o que escreveram num blog sobre si ...)
mais amargo e cínico se mostra para o mundo.
Respeite ao menos os seus leitores
e se anda incomodado com os filósofos,
diga-o. O Heidegger fez o que podia para tornar o Hoelderlin
num bom ariano, não fez bem, naqueles tempos?
O Lourenço fez do Pessoa Príncipe da nossa Baviera, o que nos deu
a todos nós uma Baviera e ao Pessoa os castelos.
Porque se queixa dos filósofos? 
Quanto às meninas, bom, o Senhor Poeta está a ficar misógino
e se pensa que nesta fase da sua vida ainda está a tempo de passar
para o campo da literatura homoerótica, desengane-se,
que toda a gente o conhece.
Hoje não esteve brilhante, Senhor Poeta. Nada, mesmo. 


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