Sunday, April 21, 2013

Poesia e diplomacia: um exemplo brasileiro

O diplomata poeta: Ricardo Primo Portugal, cônsul-adjunto do Brasil em Cantão

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Camões na poesia chinesa
Luís de Camões é o herói de Ricardo Portugal e um ponto de partida decisivo para as traduções da poesia chinesa. Quando estava a estudar o trabalho da poetisa Yu Xuanji, o diplomata conta que procurou valer-se das influências do escritor português. “Quando traduzimos a poesia clássica chinesa, o nosso objectivo é que também seja muito próxima à clássica portuguesa. Há citações de Camões que trazemos para textos de Xuanji, há inúmeras expressões usadas em Os Lusíadas. O trabalho elaborado de musicalidade, de aliterações e assonâncias na língua portuguesa foi-nos transmitido pela lírica de Camões, e não creio que seja possível traduzir bem poesia chinesa clássica sem a utilização desses recursos. Estudei cuidadosamente a literatura portuguesa. Sou de origem portuguesa e os meus apelidos são claros nesse aspecto.”
O diplomata reconhece que quando se fala no ensino da língua portuguesa no estrangeiro, o sotaque brasileiro está anos-luz atrás das iniciativas já consolidadas por Portugal na divulgação do idioma. Ricardo Portugal refere que o Brasil ainda não conseguiu agarrar a oportunidade de investir na formação de falantes com sotaque brasileiro. “O Brasil só muito recentemente conseguiu se estabilizar economicamente. O momento é promissor, a economia do país está bastante sólida e vem crescendo com distribuição de riqueza, grande preocupação do Governo brasileiro. Estamos confiantes de que o português com sotaque brasileiro passe a ser mais difundido num futuro próximo.”
Contudo, Ricardo frisa que entende as diferenças entre as formas de se falar e escrever o português, mas não gosta de pensar de maneira redutora em nenhuma delas. “O Estado português é brilhante, extremamente bem preparado e reconhece a importância da divulgação da língua portuguesa. No entanto, por vezes, sentimos algum tipo de resistência em que se fale português nos seus mais variados sotaques. Para mim, só existe um português e diversas formas de falá-lo. O Brasil não deixa de ser uma parte de Portugal que cresceu e se transformou num outro país. Jamais relegaremos a nossa história.”
O cônsul-adjunto frisa que há modelos clássicos para o Brasil que, na verdade, são portugueses. Tal referência, considera Ricardo, não deixa de ser importante para Portugal e as demais nações de língua portuguesa. “É um dado positivo: o Brasil é a principal economia do mundo lusófono, com aproximadamente 200 milhões de falantes, definitivamente um dos principais países emergentes no cenário internacional. As pessoas estudam português no mundo de hoje, principalmente, para trabalhar com o Brasil. Quando traduzo Yu Xuanji, penso em Camões, em Sophia de Mello Breyner Andresen.”

Admirável mundo novo
Há oito anos, a China já era o quarto parceiro comercial do Brasil. Hoje é o principal e, segundo o diplomata, há ainda muitas barreiras a ultrapassar para melhorar as relações bilaterais. “Para os brasileiros, a China mal deixa de ser uma absoluta novidade, o que representa um grave problema. Temos ainda pouca gente que saiba da China, que conheça a cultura e a literatura chinesa ou que fale mandarim, apesar da floração de cursos de chinês e Institutos Confúcio em universidades em anos recentes. O Brasil acordou para esta realidade tarde demais e tenta agora recuperar o tempo perdido”, aponta o cônsul-adjunto de Cantão.

(da revista Macau)

1 comment:

  1. interessante, vou ver se encontro a sua poesia e traduções, bonitos e expressivos o nome e apelido do diplomata

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