Monday, October 8, 2012

Ruy Belo, portugalês

PEREGRINO E HÓSPEDE SOBRE A TERRA

Meu único país é sempre onde estou bem
é onde pago o bem com sofrimento
é onde num momento tudo tenho
O meu país agora são os mesmos campos verdes
que no outono vi tristes e desolados
e onde nem me pedem passaporte
pois neles nasci e morro a cada instante
que a paz não é palavra para mim
O malmequer a erva o pessegueiro em flor
asseguram o mínimo de dor indispensável
a quem na felicidade que tivesse
veria uma reforma e um insulto
A vida recomeça e o sol brilha
a tudo isto chamam primavera
mas nada disto cabe numa só palavra
abstracta quando tudo é tão concreto e vário
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
Os meus amigos são os mais recentes
os dos demais países os que mal conheço e
tenho de abandonar porque me vou embora
pois eu nunca estou bem aonde estou
nem mesmo estou sequer aonde estou
Eu não sou muito grande nasci numa aldeia
mas o país que tinha já de si pequeno
fizeram-no pequeno para mim
os donos das pessoas e das terras
os vendilhões das almas no templo do mundo
Sou donde estou e só sou português
por ter em portugal olhado a luz pela primeira vez

RUY BELO

3 comments:

  1. cada vez mais é assim, ainda ontem dizia a quem me fazia companhia mas porque não...? quem me dera!
    alem de que o poema, e é um bom poema, tambem podia ser um manifesto da emigração, do nomadismo, da errancia, pois nunca estou bem aonde estou e só sou português por jus solis.

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  2. quem será o nobel da literatura? bob dylan não pf; nem esse ilegivel e comercial japones murakami, alfred nos livre; a titulo postumo se fosse possivel carlos fuentes; pessoalmente gostaria que o dessem a nicanor parra, mas com quase 100 anos deve estar esquecido; bem, vamos esperar, entretanto leio uns poemas do 1o nobel da literatura

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  3. Como um ampliar da pátria ao mundo.

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