Saturday, October 13, 2012

Conversa na estação de Tiergarten

Sim, somos do Sul.
Teve razão em reparar em nós.
Somos aqueles que passámos de pedreiros e mulheres a dias,
que  cumpriam as suas tarefas com modéstia e simplicidade,
a devedores alegres e inconscientes,
que vivem a custa dos sacrifícios
dos operários da Renânia -Palatinado. Somos nós mesmos, gnaedige Frau

Que lhe posso dizer mais? O seu povo sabe bem o que é culpa
e sacrifício.
O meu talvez não.
Mas, sabe, há uma questão menor que às vezes me ocorre:
porque andam tão zangados os nossos ricos,
agora que estão a ganhar todas as guerras?
Será que se lhes ocorre (a eles que tão pouco lêem)
Stalingrad?


6 comments:

  1. Parabéns meu caro Alcipe. É muito difícil, em poesia, "questionar", "pôr em causa". Você tem esse dom e fa-lo de modo admirável.
    É uma poesia de intervenção que não deixa ninguém indiferente!

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  2. bem na mouche e muito bem, meu caro alcipe.

    a) franquelino da motta

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  3. Quem dera!E talvez ainda possa ser no dia em que a palavra de ordem for: "Não recuar nem mais um passo!"

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  4. IRONIAS

    Visceral
    era o medo do medo
    sentido
    contaminado

    era o medo
    que crescia de perto
    com a gente
    o medo do comunismo
    um medo dado como certo
    eles tiram tudo
    até os cântaros e os burros
    e as albardas
    a eira
    os campos...
    queimam as igrejas e as batinas
    e despejam ricos e remediados
    até tudo ser pequeno igual e pobretana...

    era assim o medo
    mitigado
    presente alerta
    consciente ou não

    a mim que estou algures entre o tudo e o nada
    que construí o que sonhei
    estudei
    e pari em liberdade
    a mim não
    (terá sido distracção)
    mas fui poupada

    não nunca foi deles
    (nem doutros)
    nem comi do bolo
    nem provei sequer

    Hoje SIM tenho medo
    um medo que cresce desalmado
    e me aparece em sonhos azedo
    demónio de asa

    medo
    medo de ficar
    morta de pranto
    a olhar de longe
    a minha própria casa

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  5. Cara ERA UMA VEZ
    Lindo, forte, oportuno. bjo

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  6. Obrigada Helena.

    Ainda bem que gostou.
    (Antes não o tivesse escrito)
    O abraço de sempre

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