Friday, September 2, 2011

Regresso ao real

De um artigo de Robert Skidelsky no "Jornal de Negócios" de hoje:

De facto, as explicações keynesiana e hayekiana da origem da crise não são muito diferentes: em ambas o sobreendividamento tem um papel central. Mas as suas conclusões são muito diferentes.

Enquanto para Hayek a recuperação exige a liquidação de investimentos excessivos e um aumento das poupanças dos consumidores, para Keynes consiste na redução da propensão para poupar e no aumento do consumo para manter as expectativas de lucros das empresas. Hayek exige mais austeridade, Keynes mais gastos.

Temos aqui uma pista para perceber porque Hayek perdeu a sua grande batalha com Keynes nos anos 30. Não foi apenas porque a política de liquidação dos excessos fosse politicamente catastrófica: na Alemanha, levou Hitler ao poder. Como Keynes sublinhou se todos – famílias, empresas e governos – começarem a tentar aumentar as suas poupanças ao mesmo tempo, não há forma de evitar que a economia caia até que as pessoas sejam demasiado pobres para poupar.

Foi esta falha no raciocínio de Hayek que levou a maioria dos economistas a desertar do campo de Hayek e a abraçar as políticas de “estímulo” keynesianas. Como o economista Lionel Robbins lembrou: “Confrontados com a dura deflação desses dias, a ideia de que o essencial era eliminar os investimentos errados e… fomentar a disponibilidade para poupar era… tão desadequada como negar cobertores e estimulantes a um bêbado que tivesse caído num lago gelado, afirmando que o seu problema inicial era o sobreaquecimento”.

Excepto para os fanáticos de Hayek, parece óbvio que estímulo global coordenado de 2009 impediu que o mundo caísse noutra Grande Depressão. Não há dúvida que o custo para muitos governos de resgatar os seus bancos e de evitar o colapso das suas economias prejudicou ou destruiu a sua capacidade de crédito. Mas é cada vez mais reconhecido que medidas de austeridade no sector público, em alturas de gastos reduzidos no sector privado, leva a anos de estagnação ou provoca mesmo um novo colapso.

Assim, a política tem que mudar. Pouco se pode esperar na Europa. A verdadeira questão é se o presidente Barack Obama tem o que é necessário para ser um novo Franklin Roosevelt.

Para evitar novas crises da mesma dimensão, os Keynesianos proporiam o reforço das ferramentas de gestão macroeconómica. Os Hayekianos, por seu lado, não têm nada sensato a propor.

Robert Skidelsky, a member of the British House of Lords, is Professor Emeritus of Political Economy at Warwick University.


2 comments:

  1. Infelizmente para mim, nunca acreditei em Obama."We can" ou "you can" é lindo para discurso. Mas não chega.
    Como os Kennedy que pouco apreciei, também não chegaram...

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  2. A desalavancagem dos bancos foi feita pelos estados, e agora que é preciso desalavancar os estados não há ninguém para o fazer, a não ser... impostos e mais impostos. Quem ganhou com o endividamento bancário não é chamado a contribuir: eis a grande injustiça desse "estímulo".

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