Monday, October 19, 2015

Um poema do último livro de Nuno Júdice

Luis de Menezes, Retrato da Viscondessa de Menezes, 1862

VARIAÇÃO CELESTE

Colhi a flor de um relâmpago
de entre os teus seios juntos, e quando
estremeceste foi como se uma estrela
tivesse vacilado nos ombros
da manhã.

Pus essa flor no negro
lago dos teus olhos, e as suas
raízes estenderam-se pelo fundo
da tua memória até esse dia em que
a lava do início te inundou.

E percorri com o tempo
de uma vela de moinho o arco
das tuas sobrancelhas, procurando
na sua margem o pórtico
dos teus lábios.

Nuno Júdice, A Convergência dos Ventos, Lisboa, Dom Quixote, 2015, p.40

1 comment:

  1. Credo ...
    transe à margem da alucinação,
    fogo posto num rosto de mulher,
    poemas deliram extrema unção
    e poetas morrem por renascer...

    Isabel seixas
    in entre a espada e a parede

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