Monday, May 27, 2013

Don Giovanni em Baden-Baden



Ópera em Baden-Baden, um "Don Giovanni" excelente nas vozes (Anna Netrebko, Erwin Schott, Katija Dragojevic, Carlos Castronovo), péssimo na encenação. Lembrei-me do Jorge Silva Melo, que se insurgia sempre contra os encenadores que não respeitam o texto. Pois este encenador (Philip Himmelmann, que já deu os mesmos tratos de polé ao Cosi fan tutte e se prepara para atacar as Nozze) declarou solenemente que queria valorizar o lado trágico da ópera e a sua obsessão da morte e fazer esquecer a festa. Resultado: quase toda a ópera é cantada diante do pano preto (mas abrem uns buraquinhos de vez em quando, dizem os críticos favoráveis), com excepção de uma cena debaixo de uma árvore, que é uma espécie de assinatura do encenador, e da cena final no cemitério; ficando o jantar com o comendador transformado num conjunto de pacotes de supermercado que vão sendo atirados para o lixo (neste caso uma campa) -  e os mesmos críticos dizem que foi uma ideia genial transformar o banquete num piquenique no cemitério...  Pobre Mozart e pobre encenador que nunca percebeu que a festa e a morte no "Don Giovanni" são duas faces da mesma moeda. Além de ter escolhido a solução mais preguiçosa!

Quanto à direcção musical de Thomas Hengenbrock, é interessante observar como coexiste com esta obsessão cenográfica de modernizar todas as situações teatrais uma outra obsessão contrária, a dos instrumentos e tempos da época, a de podermos ouvir a música tal como se ouviria no tempo de Mozart... Jogará uma coisa com a outra? E que quererá isto dizer?

- com a preocupação do contraditório, junto excertos da crítica de Michel Thomé no Res Musica :

En effet, la mise en scène de  parvient à trouver le juste milieu entre drame et comédie, comme le demande l’intitulé de l’œuvre. Grâce lui soit déjà rendue d’avoir fait confiance aux qualités théâtrales du livret de da Ponte en s’y tenant et en en assurant la traduction scénique, sans en  tenter une énième relecture. La seule liberté qu’il s’est octroyée réside dans les costumes contemporains voire atemporels – le mythe de Don Juan ne l’est-il pas ? – de Florence von Gerkan. La scénographie de Johannes Leiacker est dépouillée au maximum : de hauts murs blancs, un arbre dénudé (car  voit dans cette trilogie Mozart-Da Ponte la succession des saisons de l’amour, Don Giovanni en étant l’hiver), des fauteuils Louis XVI, la tombe du commandeur omniprésente et quelques statues pour le cimetière. L’animation viendra des éclairages de David Cunningham et de l’usage très habile d’un rideau à ouverture variable, suggérant ici une porte, là la fenêtre d’Elvire, ouvrant large l’espace ou le rétrécissant pour isoler les chanteurs à l’avant-scène. 

(...)

le banquet devient –idée géniale– un pique-nique organisé sur la tombe du Commandeur, où le Don finira entraîné par les statues s’animant en morts-vivants

2 comments:

  1. Alcipe,
    É preciso não esquecer que Lorenzo da Ponte era de origem judia portuguesa.
    Maria Alexandre Dáskalos

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  2. ora aí está, um d joão feito segundo a imaginação desse encenador, pois tudo é possivel, menos deformar ou mutilar o texto, isso não, não aceito, e tendo lido vários d joães ou convidados de pedra, inclino-me para o moliere, e para o idoso e reformado de h. de montherlant, sem esquecer os ineditos que esperam publicação.
    mas pela descrição, este em baden baden dá duriosidade ver, sim, dá, etc etc

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