Monday, April 4, 2011

Leituras da Índia

Não é presunção : Catherine Clément é uma notável escritora e intelectual, estudou a Índia com toda a seriedade enraizada na sua formação na École Normale Supérieure, na sua condição de discípula de Claude Lévi-Strauss e na sua identidade de prolixa, respeitada e diversificada autora, da escola de Barthes e de Lacan. Ela sem dúvida soube tirar partido de forma inteligente e criadora da sua condição acidental de embaixatriz na Índia entre 1987 e 1991. O seu "Les Dieux de l'Inde" é uma boa introdução ao Hinduísmo, feita em termos simples e acessíveis. Contou, de forma atractiva e empolgante, mas sem qualquer voyeurismo, o romance entre Nehru e Edwina Mountbatten ("Pour l'Amour de l'Inde"). Mas esta "Mémoire" que no ano passado publicou, na parte que respeita à Índia, faz-me sentir um misto de insatisfação e de empatia, que peço por favor não tomem por presunção. Catherine Clément, como eu, leu a Índia, dialogou com a Índia, procurou entender, com o empenhamento do seu afecto e com os seus instrumentos teóricos (por certo, bem superiores aos meus) aquela realidade prodigiosa. Mas não chega (como eu não cheguei) ao essencial...

Malraux, esse, inventou a Índia. Mas é bem mais forte o que ele escreve e, por falso que possa ser, faz-nos chegar mais longe!

Será que só mentindo um pouco conseguimos entender o Outro?

"Je suis un mensonge qui dit toujours la vérité" (Jean Cocteau)

1 comment:

  1. Que questão delicadíssima, caro Alcipe. Sobretudo quando se escolheu e foi escolhido por uma carreira onde só o silêncio se pode sobrepôr à mentira...
    Na minha área pôs-se-me muitas vezes esse dilema. E nem sempre fiquei contente com o silêncio!

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