Wednesday, September 1, 2010

Homenagem à Ria de Alvor

NUMA NOITE DE AGOSTO SOBRE A RIA DO ALVOR
(à Elisabeth Enders e à Lena Abreu)

Gritam grilos na noite serrilhada, cosidos a ela
como lantejoulas

gritam grilos como as estrelas
no infinito imaginado:

a invisibilidade dos números
faz os brilhos

um gato passa no seu passo lento e fino
um gato temerário que me fita

um comboio corta a noite correndo
pelo som que faz
o romper do ar que há na sua voz
na sua voz

Velocidade é tempo e o comboio é a sua
mais perfeita imagem

- tudo o que corre ocorre no sentido inverso
à marcha do comboio

no sentido inverso à terra, ao seu relógio,
pois que a velocidade é tempo e o comboio

é dela a mais perfeita imagem
Os comboios que eu amo não sabem de onde vêm

perdem-se na noite e refocilam como portentosos sonhos
pelos campos espalham uma quimérica limalha

dispersam-na e refocilam, portentosos bisontes
pois que algo no comboio livremente o toma

como as obstinações, a febre
e porque é febre a pressa que o acirra

(Maria Andresen, "Lugares,3", Relógio d'Água, Lisboa, 2010)

1 comment:

  1. há algo de duro neste poema, talvez a sua sonoridade desagradável resultante de palavras que chocam umas com as outras:"GRItam GRIlos"; "passa no seu passo"; "refocilam"(2 vezes); "espalham limalha"; "acirra"; palavras repetidas, um excesso de assonâncias que dão em dissonâncias e um uso de palavras raras e pouco adequadas à linguagem e sonoridade poéticas.
    A que coisa ou ser se refere o "o" pronominal do verso 24? li várias vezes e não consigo encontrar o antecedente. Já o "o" do verso 26 possivelmente refere-se a comboio.
    Ao contrário do bom poema anterior, posso dizer que não gosto desta poesia.

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