O que eu quis dizer quando invoquei esta citação de Almada Negreiros a propósito da nossa relação de portugueses com Goa não foi de modo algum que devêssemos esquecer Goa : quis apenas dizer que não nos podemos esquecer que os goeses são outros em relação a nós . E felizmente que assim é, porque a amizade faz-se entre pessoas (pessoas, não comunidades imaginadas!) diferentes naquilo que são, comuns naquilo que partilham e iguais naquilo a que têm direito!
Quando não se respeita essa alteridade, cai-se numa promiscuidade de identificação elegíaca ou num ruminado ressentimento, digno da "moral dos escravos" (velho Nietzsche!) , que, ambos, têm de ser resolutamente esquecidos.
Não quero esquecer Goa : quero simplesmente dizer que não tenho que responder pelos sofrimentos identitários dos meus amigos goeses. As tragédias entre nós já aconteceram há muitos séculos e um judeu alemão do século XIX que eu muito admiro dizia que na História repetir as tragédias redunda sempre em farsas!
Dixi et salvavi animam meam.
oh senhor embaixador, admira esse judeu alemao?? ainda ???
ReplyDelete"não nos podemos esquecer que os goeses são outros em relação a nós"
ReplyDeleteYou nailed it, sir! É exactamente este *reconhecimento* do outro, da sua agência (a.k.a. "identidade"), que é um passo essencial para uma interacção construtiva. É verdade que a ladaínha de debates sobre a "identidade goesa" é cansativa e monótona, mas esse é um processo que se faz *em Goa*, pelos goeses. É um debate que só indirectamente diz respeito a Portugal. É um debate em que (como portugueses) devemos saber limitar-nos a um estatuto observador.