Monday, November 10, 2014

Das mudanças


Fechar mais uma porta, ter em caixas de cartão
a vida resumida; e um outro espaço virá
para toda a atenção ao que ainda pode ser.
Nunca desisto. Ainda que amargo,
o verso se ilumina
e não morre no pavio a contrariada chama:
deixo-a que alastre e se consuma,
esvaída no momento, tal como a vida
foi ficando pelo mundo repartida
e em caixas de cartão solta e movida.
 

2 comments:

  1. E nalgumas caixas de cartão que se perdem nas mudanças perdem-se pequenas parcelas de vidas. Com a memória diluída pelo passar dos anos, dou por mim, às vezes, a perguntar "onde está aquela foto, aquele pedaço de papel, aquele livro que é a prova de que aquele facto aconteceu, que estive com aquela pessoa naquele sítio, que li aquela obra?"
    Dou por mim a duvidar da minha memória porque, na mudança de 1997 ("embalagem, transporte e entrega..."), se perdeu uma caixa de cartão.
    Belíssimo poema, mon cher.

    ReplyDelete