Tuesday, December 10, 2013

Tramonto a Venezia




Já não é longe nem perto:
faz-se noite devagar.
O espaço mais aberto
fecha-se neste lugar,

feito bichinho de conta,
capa de livro banal,
lugar comum que remonta
à frieza de um postal.

Mas o que tudo nos diz
é que aqui nasce a beleza,
indiferente a ser feliz,
também imune à tristeza. 

2 comments:

  1. pois às 5 da manhã dum dia de 1953 lawrence durrel tomava café quente com 1 corneto num quiosque mais ou menos nesse lugar, ia tomar o ferry que o levaria ao navio que o levaria a chipre, assim começam os limões amargos, em veneza, depois de veneza é já o oriente, pois deve ser belo chegar aí, também partir, de madrugada ou ao por do sol, as cartas postais já seguiram, pois essa cidade enche, alguém dizia há anos num jantar que se houvesse justiça neste mundo portugal abriria aí um consulado e ele seria nomeado cônsul geral em veneza, e durrell seguiu para chipre ainda inglês e o gosto do capuccino com o cornetto deve ter lhe ficado gravado na memória, são coisas assim que nos tornam ocasionalmente imunes à tristeza, e em lisboa ao passar pela casa dos bicos o que se evoca é veneza, pois é isso e algo mais, etc etc

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  2. Quando eles são pequenos é nossa a alegria de lhes mostrar lugares bonitos no mundo.

    Depois , quase num fechar de olhos, o tempo já passou, e foi ela, tão jovem, jornalista de televisão,já viajada, que assumiu radiante a missão de nos mostrar Veneza.

    Um Setembro ameno, um dia de sol, a saída do Vaporeto e ali estava S.Marcos, e um mundo de gente e de pombos e de música, como se por magia, um postal de infância tivesse adquirido movimento e tudo de repente tivesse tomado vida própria.

    Pois é, sempre achei que Veneza seria apenas isso, uma sábia conjugação, uma estudada sedução para turista sedento, uma sumptuosa feira de vaidades.

    Foi um dia intenso. Entre outras coisas, passámos ruelas e pontes, e pontezinhas, labirintos para lugar nenhum mas que ela parecia saber sempre onde iam dar
    .
    Ao fim da tarde, exaustos, voltámos a S. Marcos, subimos a torre, e depois, sentámo-nos finalmente
    numa daquelas esplanadas.
    Alguém tocava blues num piano branco
    Em silêncio, olhos cheios de tanta beleza, na certeza de que ninguém esqueceria aquele momento de paz fomos ficando sem pressa.

    Foi então...que vi o brilho da catedral iluminada pela luz do sol que partia devagar, ali tão perto, num dourado como nunca na vida e disse baixinho "obrigada, Deus do céu, Veneza existe mesmo e eu estou aqui"

    O café foi caríssimo. Nessa tarde, teria pago o dobro....

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